CADA POEMA É UM FRAGMENTO DO POEMA GERAL QUE QUINTANA VEIO COMPONDO
DURANTE TODA A SUA VIDA

segunda-feira

EM “Estou Sentado Sobre Minha Mala” vemos uma profunda desilusão e angústia do poeta diante do destino humano: “Se em toda a parte é sempre o Fim do Mundo/Pra que partir?”Observamos também que para ele tudo na vida dá no mesmo, a inutilidade da luta , mas essa luta, o por que dessa luta, a que os homens estão empenhados não deixa de ser uma coisa misteriosa: “Quanto tempo meus Deus, malbaratado? Em tanta inútil, misteriosa escalada!”.

ESTOU SENTADO SOBRE MINHA MALA


Estou sentado sobre a minha mala
No velho bergantim desmantelado...
Quanto tempo meu Deus, malbaratado
Em tanta inútil, misteriosa escala!

Joguei a minha bússola quebrada
Às águas fundas...E afinal sem norte,
Como o velho Simbad de alma cansada
Eu nada mais desejo, nem a morte...

Delícia de ficar deitado ao fundo
Do barco, a vos olhar, velas paradas!
Se em toda a parte é sempre o Fim do Mundo

Pra que partir? Sempre se chega, enfim...
Pra que seguir empós das alvoradas
Se por si mesmas elas vêm a mim?

(da obra A Rua Dos Cataventos)

domingo



EU ESCREVI UM POEMA TRISTE

Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza...
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel...
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves...
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!

Mario Quintana
A Cor do Invisível

sábado

O TEMPO



Tres momentos quintanianos em que o poeta brinca com o tempo esse inexorável construtor/destruidor do universo.

O mais feroz dos animais domésticos é o relógio de parede: conheço um que já devorou três gerações da minha família.

Amor
Quando duas pessoas fazem amor
Não estão apenas fazendo amor
Estão dando corda ao relógio do mundo


O tempo não pára! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo...

Mário Quintana

quinta-feira

DA OBSERVAÇÃO
Não te irrites, por mais que te fizerem...
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio...
Espelho Mágico

quarta-feira

segunda-feira

A CANÇÃO DA VIDA


A vida é louca
a vida é uma sarabanda
é um corrupio...
A vida múltipla dá-se as mãos como um bando
de raparigas em flor
e está cantando
em torno a ti:
Como eu sou bela
amor!
Entra em mim, como em uma tela
de Renoir
enquanto é primavera,
enquanto o mundo
não poluir
o azul do ar!
Não vás ficar
não vás ficar
aí...
como um salso chorando
na beira do rio...
(Como a vida é bela! como a vida é louca!)

Esconderijos do Tempo

terça-feira

EU QUERIA TRAZER-TE UNS VERSOS MUI LINDOS


INTRODUÇÃO AO BLOG
QUERIDO MARIO QUINTANA


Há muito pensava em como retribuir os milhares de versos que deixas-te para nosso encantamento, em uma vida dedicada à poesia. Decidi que divulgar sua obra através deste instrumento chamado Blog e que certamente não conheceste, seria uma forma de realizar meu desejo. Não sei se, aí onde estás, aprovaria esta minha iniciativa uma vez que eras avesso às modernidades. Datilografar com um dedo de cada mão foi sua maior concessão à tecnologia. Atirei-me à empreitada e aqui está seu Blog materializando-se. Sim, teu Blog que além de tuas poesias e tuas crônicas, conta detalhes de sua vida curiosa. E tu que estais entre os 5 maiores poetas brasileiros (só a Academia Brasileira de Letras não reconheceu isso) trazes para estas páginas leitores do mundo inteiro.

Assim nasce o Quintana Eterno. Eterno porque a boa poesia, assim como a boa música, a boa arte são eternos. E eterno serás com certeza poeta. Após teres embarcado naquele barquinho de nuvens, que olhavas através de tua janela, estás aí a desfrutar as delícias da eternidade, tentando consertar alguns versos tortos enquanto os mortais aqui em baixo continuam a ler e admirar seus versos perfeitos.

Bem meu querido Mário, espero estar criando um blog à altura de sua importância para o Brasil, para a língua portuguesa e para o mundo. Espero que os apaixonados por ti se sintam satisfeitos e os que não te conheciam passem a amá-lo como nós, seus leitores de tempos, o amamos.

Bernardo


Eu queria trazer-te uns versos muito lindos
colhidos no mais íntimo de mim...
Suas palavras
seriam as mais simples do mundo,
porém não sei que luz as iluminaria
que terias de fechar teus olhos para as ouvir...
Sim! Uma luz que viria de dentro delas,
como essa que acende inesperadas cores
nas lanternas chinesas de papel!


Trago-te palavras, apenas...
e que estão escritas do lado de fora do papel...
Não sei, eu nunca soube o que dizer-te
e este poema vai morrendo, ardente e puro, ao vento
da Poesia...
como
uma pobre lanterna que incendiou!

Mario Quintana
Extraído do livro "Quintana de bolso", Editora LP&M Pocket - Porto Alegre (RS), 2006, pág. 59, seleção de Sergio Faraco.
Quintana caminha em Porto Alegre - Foto Dulce Helfer