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quarta-feira

ENVELHECER EM QUATRO VERSOS (I)

Cabeça de velho - Candido Portinari

O poema “Envelhecer” já foi postado neste blog, em março, mas é interessante retomá-lo e compará-lo a outros poemas de Quintana sobre o tema. “Envelhecer” sintetiza em apenas quatro versos toda uma fase da vida humana. Nesse quarteto, o sujeito poético compara o passar do tempo a uma estrada de mão dupla, resumindo a juventude como uma trilha para novas descobertas e a velhice como um atalho para o isolamento e a morte. O poeta, no entanto, não demonstra qualquer tipo de desespero frente a este último “caminho”. Ao contrário, fala dele com profunda resignação:

Antes todos os caminhos iam.
Agora todos os caminhos vêm.
A casa é acolhedora, os livros poucos.
E eu mesmo preparo o chá para os fantasmas.


Estabelecendo-se um diálogo entre esse quarteto e o poema “Do mal da velhice”, tem-se um contraponto, pois aqui o poeta demonstra maior dificuldade em aceitar o peso da idade. Desde o título, torna-se evidente o desprezo com que ele aborda a questão da velhice, vista como uma fase em que as pessoas deixam de viver e passam apenas a encompridar “ainda mais” a “doença” que a velhice representa:

Chega a velhice um dia...E a gente ainda pensa
Que vive... E adora ainda mais a vida!
Como o enfermo que em vez de dar combate à doença
Busca torná-la ainda mais comprida...


Quintana também trata o tema velhice com bom humor:
“Velhice é quando um dia as moças começam a nos tratar com respeito e os rapazes sem respeito algum”

Outro assunto relacionado à velhice que recebe igual atenção por parte da lírica quintaniana é a questão “Da experiência”. Segundo o poema a experiência é tão útil ao velho quanto é, para o “doente perdido”, a receita forjada pelo “médico tardio”:

A experiência de nada serve à gente.
É um médico tardio, distraído:
Põe-se a forjar receitas quando o doente
Já está perdido...


A análise dos poemas é de Nathalia Sabino Ribas

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