CADA POEMA É UM FRAGMENTO DO POEMA GERAL QUE QUINTANA VEIO COMPONDO
DURANTE TODA A SUA VIDA

domingo

NO PRINCÍPIO DO FIM

O Grito - Edvard Munch


O som da locomotiva ao longe, interrompendo o silêncio da noite é uma doce lembrança da infância. O silêncio da noite tinha seus segredos e o som do trem trazia uma nostalgia, um sentimento não sei de que. Em "No Princípio do Fim" tudo nos reporta ao passado provincial, à simplicidade de um mundo que não mais existe.
Bernardo

Há ruídos que não se ouvem mais:
- o grito desgarrado de uma locomotiva na madrugada
- os apitos dos guardas noturnos quadriculando
como um mapa a cidade adormecida
- os barbeiros que faziam cantar no ar as suas tesouras
- a matraca do vendedor de cartuchos
- a gaitinha do afiador de facas
- todos esses ruídos que apenas rompiam o silêncio.
E hoje o que mais se precisa é de silêncios
que interrompam os ruídos
Mas que se há de fazer?
Há muitos – a grande maioria – que já nasceram no barulho. E nem sabem, nem notam, por que as suas mentes são tão atordoadas, seus pensamentos tão confusos. Tanto que, na sua bebedeira auricular, só conseguem entender as frases repetitivas da música Pop. E, se esta nossa “civilização” não arrebentar, acabamos um dia perdendo a fala – para que falar? Para que pensar? Ficaremos apenas no batuque:
Tan!tan!tan!tan!tan!

Mario Quintana
A Vaca e o Hipografo
1977

2 comentários:

Primeira Pessoa disse...

quintana é lindo.
e lindo, também, ficou o teu blog.
admiração do
roberto.

Marta disse...

Adorei...
desculpe a invasao, mas prendi m na leitura do blog

bj