CADA POEMA É UM FRAGMENTO DO POEMA GERAL QUE QUINTANA VEIO COMPONDO
DURANTE TODA A SUA VIDA

terça-feira

O QUARTO DE MÁRIO QUINTANA

Quarto de Mario Quintana assombrando(veja reflexo na parede) foto Daniel de Andrade Simões

Este quarto, de Mario Quintana, sua última morada, nos faz imaginar um personagem solitário e disperso, perdido entre seus versos. Quantos poemas Mario não construiu aqui. Talvez ele volte, de vez em quando,a visitar sua última morada terrena. E quando aqui chega deve dizer aos retratos da parede:
"Tú não imaginas como é bom, como é repousante,
Não ter bagagem nenhuma."
E olhando sua velhas coisas, alí tão conservadas...intáctas, deve dizer baixinho:

"Nem sei mais se me matei,
Se morri por distraido,
Se me atiraram do caís"
[]"Eu sigo todo florido
Cadáver desconhecido,
Vogando, lento à deriva,
Nos rios todos do mundo."

E assim vai o poeta dedilhando seus objetos, sua velha cama
e certamente recordará aquele poema, composto na dificuldade da velhice, na lentidão dos movimentos trêmulos e doloridos:

Este quarto de enfermo, tão deserto
de tudo, pois nem livros eu já leio
e a própria vida eu a deixei no meio
como um romance que ficasse aberto...


que me importa este quarto, em que desperto
como se despertasse em quarto alheio?
Eu olho é o céu! imensamente perto,
o céu que me descansa como um seio.


Pois só o céu é que está perto, sim,
tão perto e tão amigo que parece
um grande olhar azul pousando em mim.


A morte deveria ser assim:
um céu que pouco a pouco anoitecesse
e a gente nem soubesse que era o fim...
Foto de Daniel de Andrade Simões

5 comentários:

Anônimo disse...

Bela postagem Bernardo. Isso acontece quando dois poetas se encontram.
Parabéns pelo seu significativo trabalho nesse blog Quintana Eterno.
Daniel de Andrade Simões

Dilmar Gomes disse...

Amigo Bernardo, que bom que existe o seu blog, pois assim a gente celebra a memoria do nosso poeta-anjo. Nós outros, comuns mortais, talvez não compeendramos como uma pessoa se isola do mundo, entre parentese, para criar coisas que parecem sair do nada; mas isso não importa muito, pois o importante mesmo é que o Mario é "Eterno"

sil disse...

Bernardo, acho que Quintana nem se lembra que um dia esteve "num quarto"...
acho que paredes são facilmente esquecidas.

um abraço

A Wild Garden disse...

Que felicidade encontrar teu blog agora que acabo de voltar de Porto Alegre e de dentro deste mágico espaço quintanístico!

A Wild Garden disse...

Que felicidade encontrar teu blog agora que acabo de chegar de Porto Alegre e estive dentro deste mágico espaço quintanístico!